Parece que estou a falhar. Impõe-se a autocrítica: tenho passado todos os meus tempos blogosférico, na imprensa e na sempre precária academia a tentar criticar os neoliberais hegemónicos e algumas das suas fraudes intelectuais e a defender as virtudes da redução das desigualdades económicas, da manutenção e expansão do Estado social, que desmercadoriza esferas da vida social importantes, da regulação e taxação mais robusta da finança, da nacionalização de sectores estratégicos e das políticas keynesianas de pleno emprego. Esta mania, a cujas razões voltarei lá para o final destas notas desorganizadas, porque insisti em pensar que se inscreveria no melhor imaginário socialista, aquele que procura eliminar progressivamente as fontes socioeconómicas do sofrimento social evitável a partir do controlo democrático da economia, traduziu-se numa ilusão política perigosa: a de que é hoje possível e desejável construir um bloco social anti-neoliberal tão amplo quanto possível. Isto, obviamente, pressupõe que se supere uma dicotomia que tão maus serviços prestou a toda a esquerda, em geral, e ao socialismo, em particular: reformista ou revolucionário? Uma dicotomia que exclui, fecha e nem sequer clarifica, porque, entre outras razões, não ilumina as práticas políticas concretas de quem quer intervir com eficácia neste mundo. A avaliar por Nuno Ramos de Almeida (NRA) e por Luís Rainha (LR), devem ser esta insistência e esta ilusão que fazem de mim, respectivamente, um “reformista” e um ser desprovido de imaginação para tentar pensar para lá do “paradigma”, o que quer que isso seja. Que devo fazer? Talvez escrever. Talvez tentar mostrar como NRA faz uma interpretação equivocada do importante projecto intelectual das utopias reais e aproveitar esse facto para falar telegraficamente de socialismo, referindo de passagem a excelente resposta dada por Bruno Góis, no socialismo 2010 do passado fim-de-semana, à questão que tanto irrita, e ainda bem, os revolucionários do cinco dias – “Há socialismo sem democracia?”
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