José Rodrigues Miguéis recorda a sua primeira infância num dos melhores romances portugueses que li. Indispensável a qualquer lisboeta que se preze ou outros que prezem a cidade. A cidade do princípio do século, os primeiros automóveis, a cidade iluminada a gás, dos teatros do Princípe Real, do animatógrafo, a cidade que acabava na Rotunda, para lá os campos de corridas ao Campo Grande.
Os hábitos, a carbonária, a aristocracia decadente, o regicídio e a proclamação da turbulenta I República. As profissões, os portugueses e galegos que chegavam à capital. Tudo contado magistralmente (tirando talvez as primeiras super adjectivadas páginas) pelos olhos de um menino que cresceu a ver o brillho do sol das sacadas pombalinas viradas ao Tejo. Menino que reteve minuciosamente a memória das cores, dos cheiros, das gentes e de tudo quanto foi sendo, intensamente, o seu mundo. Que saudades de uma cidade assim. Que pudesse construir-nos a infância e levar-nos de regresso a ela vezes sem conta.
1 comentário:
Pois, parece que também se têm saudades de algo que não se teve!... :)
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