Aqui há uns dias assistimos na rua à detenção de uma imigrante supostamente ilegal. Dois polícias pedem identificação a uma rapariga jovem, pobremente vestida, com aparência estrangeira, que vendia pensos rápidos em Algés. A coisa parece prometer, um deles ri-se e chama reforços pelo walkie talkie. Estaremos perante o desmontar de uma rede criminosa? Alguns vizinhos: pobre rapariga, anda cá há tanto tempo não faz mal a ninguém, outros calados, de um silêncio resignado ou perplexo. Aproximo-me, pergunto sob que direito estão a pedir a identificação àquela pessoa. O polícia mais novo pára de rir e fica mudo. Talvez a minha voz o tenha incomodado e tenha percebido que não estava em nenhuma operação Miami Vice. Respondem-me, depois de me darem uma lição sobre a diferença entre ser preso e detido, que podem pedir a identficação sempre que se justifique perante enunciados legais como a pessoa ser procurada ou suspeita de crime. A rapariga, que nunca disse uma palavra em português e a quem ninguém dirigiu uma palavra noutra língua que fosse, prefigurava o crime de não ter papéis. Racismo e discriminação neste pressuposto ainda que seja confirmada a suspeita. Outro polícia aparece. O Rui pede informações e identificações como jornalista, mandam-no abandonar o local e recusam-se a abrir a boca. Mais dois polícias aparecem, estes mais velhos e mais incomodados por terem de incluir isto nos seus afazeres. Querem que ela vá embora, mas ela não mostra identificação diz a dupla inicial. Levá-la para a esquadra e telefonar ao SEF. FDP
O carro vem, ela chora, apetece-me gritar-lhes obscenidades, alguém na rua diz baixinho, vão é para a vossa terra. Onde é que ela está agora?