19 fevereiro 2009

Prós e Contras desta semana








Em Novembro passado o ps chumbou a proposta de casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, os motivos foram ser este um tema sem o debate e o consenso social necessários. Em Janeiro Sócrates avança a mesma ideia junto do Partido para se tornar um compromisso eleitoral do próximo governo. Um mês foi suficiente ao primeiro-ministro para reflectir na proposta que obrigou os deputados do seu partido a chumbar. Isto acontece no meio de muitas notícias que relacionam o primeiro-ministro e a família no caso Freeport. Será que o assunto homossexual consegue obnubilar por momentos o que aconteceu no Montijo? Se não conseguir pelo menos há mais um Prós e Contras.
Quem cometeu a imprudência de ver o programa julgou certamente estar numa reprise do debate sobre o aborto. De um lado e do outro repetem-se os agentes. Os argumentos da direita voltam a ser os mesmos, a família, essa instituição legitimada por padres, e bispos e séculos de patriarcado vário serve para condenar as mulheres que abortam, a eutanásia e o amor que não seja entre uma mulher e um homem.
Na plateia da esquerda os mesmos do costume, Daniel Oliveira, Fernanda Câncio… não existem no país mais pessoas com os mesmos ou melhores argumentos que não transmitam a ideia de falta de pluralidade e de massa crítica? Certamente que existem, e que até estão dispostas ou a não se importar de participar neste molde de debate televisivo, mas…as agendas pessoais (ou outras) são sempre mais importantes. Depois, na mesa Miguel Vale de Almeida, o discurso limpo, claro, exemplar, pensado e oportunista. Uma das coisas mais lamentáveis que tem vindo a acontecer no associativismo (de uma forma geral e aqui o lgbt em particular) é a visão estreita dos seus objectivos como se estes pudessem atingir-se por si mesmos em qualquer contexto. Não tenho dúvidas que o acesso ao casamento pelos homossexuais é uma mudança estrondosa na dinâmica da luta dos direitos da população lgbt. Com impactos sociais significativos e cumulativos. Agora fazer a história da luta pelo casamento, como fez Vale de Almeida e não falar do chumbo da lei há dois meses, não acusar este governo de utilizar o tema de forma oportunística é também de um oportunismo que não vai bem com os argumentos emancipatórios de quem quer mudar a lei. Citando o marido de Vale de Almeida, presidente da Ilga também presente no debate, trata-se de uma questão de dignidade, de igualdade e de decência (citando Zapatero). Podemos construir uma sociedade decente e digna com políticos sem agenda e com práticas e discursos que não concordam? Não dizer nada sobre o assunto quando se representa os direitos ou o discurso de uma população não me parece nada decente nem me parece que contribua para construirmos a tal sociedade da igualdade

05 fevereiro 2009

Canto Diurno


No silêncio bebe a sua taça
e é dor o amor enquanto espera,
imagina o desejo de repente
e lentamente olha o olhar do Outro.
Conhecer é amar, disse o divino
Platão ou outro filósofo antigo.
Porém como traçar na sombra
da persiana de luz o esboço
do teu rosto escasso ausente,
se no diurno amor a memória
o faz mais esquecer-se?

Quando Março me dá a nova flor
que abre sem palavras a corola,
eu comparo-a com o amor que eclode
na pupila do olhar em luz e sombra.
Todo o ventre é bendito, tanto
mais o da primavera do cio
de aves e flores. Também o desejo
imaginou a língua sem palavras,
e que é a do som do Canto e dos poemas.

Este diurno Amor está em corpo,
e num e noutro, como o pão partido
no banquete dos convivas silenciosos
que é o de cada um consigo e os outros.
Nenhuma coisa ausente o partilha,
quando as estações do tempo passam
por nós depois da Primavera e param
na longa mesa posta para o Verão.
Tudo é presença aqui, e o tempo é dia.


Fiama Hasse Pais Brandão