17 fevereiro 2008
14 fevereiro 2008
02 fevereiro 2008
O Corte, Mark Ravenhill, assédio teatro
Se uma pessoa fica algum tempo sem ver notícias quando regressa tem a sensação de que podia ter acordado num ano qualquer. Maiores cheias de sempre em Moçambique, Governo PS não vai referendar Tratado Europeu como prometeu, etc. etc. Penso que este fenómeno de um certo Eterno Retorno é capaz de ter um nome e lembro-me, de alguém não sei quem ao certo, ter feito um trabalho de comparação entre alinhamentos dos noticiários dos anos 80 e os de hoje para percebermos que o mundo muda mais no estilo da maquilhagem da pivot. Isto leva-me à peça de ontem, O Corte, de Mark Ravenhill, aprentada pelo assédio teatro (não, não há relação para lá da coincidência do nome). Este texto, para lá de ser um bom texto e para lá de ser uma boa encenação/interpretação, parece-me representar um sentimento actual generalizado de irrevogabilidade da História bem como do destino de cada um. Como se a proclamação do fim da História ou o fim dos deuses nos deixasse este cinismo ocupacional como única fronteira por onde fosse possível estar sem esperar ou querer realmente alguma coisa.
Apesar das aparências o Mundo muda realmente. Apesar da notícia sobre as maiores cheias em Moçambique ser igual de dez em dez anos o facto é que Moçambique não é já o mesmo. Nem nós. Ou seja, apesar do predomínio de certa visão do mundo ocupar os centros de difusão da propaganda e da linguagem não quer dizer que devamos deixar-nos enredar neste ciclo sem saída. E o texto de Mark Ravenhill peca pela forma como se deixa enredar na própria teia que a sua crítica pretende atingir. Digo deixa-se enredar porque não há em momento algum um local, uma janela, uma palavra, por onde seja possível olhar para lá da evidente corrupção moral do indivíduo e da sociedade. Apenas uma consternada resignação e a cobardia de pôr um fim determinante a tudo. Não são precisos arco-irís ou potes de ouro a luzir no horizonte mas, seja face a qualquer vazio existencial ou a qualquer mentira política/social precisamos de textos ou acções para a mudança e não de constatações resigadas, mesmo que tenham a estética e o bom gosto do seu lado.
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