24 setembro 2010

Por um novo impulso ao debate sobre o socialismo, João Rodrigues

Parece que estou a falhar. Impõe-se a autocrítica: tenho passado todos os meus tempos blogosférico, na imprensa e na sempre precária academia a tentar criticar os neoliberais hegemónicos e algumas das suas fraudes intelectuais e a defender as virtudes da redução das desigualdades económicas, da manutenção e expansão do Estado social, que desmercadoriza esferas da vida social importantes, da regulação e taxação mais robusta da finança, da nacionalização de sectores estratégicos e das políticas keynesianas de pleno emprego. Esta mania, a cujas razões voltarei lá para o final destas notas desorganizadas, porque insisti em pensar que se inscreveria no melhor imaginário socialista, aquele que procura eliminar progressivamente as fontes socioeconómicas do sofrimento social evitável a partir do controlo democrático da economia, traduziu-se numa ilusão política perigosa: a de que é hoje possível e desejável construir um bloco social anti-neoliberal tão amplo quanto possível. Isto, obviamente, pressupõe que se supere uma dicotomia que tão maus serviços prestou a toda a esquerda, em geral, e ao socialismo, em particular: reformista ou revolucionário? Uma dicotomia que exclui, fecha e nem sequer clarifica, porque, entre outras razões, não ilumina as práticas políticas concretas de quem quer intervir com eficácia neste mundo. A avaliar por Nuno Ramos de Almeida (NRA) e por Luís Rainha (LR), devem ser esta insistência e esta ilusão que fazem de mim, respectivamente, um “reformista” e um ser desprovido de imaginação para tentar pensar para lá do “paradigma”, o que quer que isso seja. Que devo fazer? Talvez escrever. Talvez tentar mostrar como NRA faz uma interpretação equivocada do importante projecto intelectual das utopias reais e aproveitar esse facto para falar telegraficamente de socialismo, referindo de passagem a excelente resposta dada por Bruno Góis, no socialismo 2010 do passado fim-de-semana, à questão que tanto irrita, e ainda bem, os revolucionários do cinco dias – “Há socialismo sem democracia?”

17 setembro 2010

Não à associação do Queer Lisboa com o criminoso apartheid israelita!

Pela rejeição imediata do apoio da embaixada israelita ao Festival!
Concentração frente ao cinema São Jorge, Avª da Liberdade, Lisboa

6ª feira, 17 de Setembro, 19h.

divulguem e compareçam!



Inicia-se na próxima 6ª feira a 14ª edição do Queer Lisboa, Festival de Cinema emanado do movimento LGBT (lésbico, gay, bissexual e transgénero) e da sua mobilização contra as discriminações em função da orientação sexual e da identidade de género em Portugal, logo, merecedor do nosso apreço e da nossa solidariedade. Nesta edição, porém, tal como nos últimos três anos e apesar de alertas que já lhe foram dirigidos no ano passado, o Festival propõe-se receber apoio financeiro e institucional da embaixada israelita em Lisboa.

Este apoio não é inocente. Corresponde ao que tem sido o comportamento da representação de Israel noutros países relativamente ao tema LGBT, denunciado pelos próprios movimentos LGBT em Israel como uma política coordenada para transmitir internacionalmente a ideia de que Israel é um oásis de tolerância no que toca aos direitos LGBT, e uma nação respeitadora dos Direitos Humanos e do direito internacional, ocultando assim a ocupação da Palestina e as sistemáticas violações dos direitos dos palestinianos.

Assim, um conjunto de colectivos - LGBT, feministas, anti-racistas, pela paz no Médio Oriente e outros -, em coordenação internacional com colectivos e activistas congéneres israelitas, palestinianos, do estado espanhol, canadianos, norte-americanos ou italianos, entre outros, decidiu convocar uma manifestação pela rejeição imediata do apoio da embaixada israelita ao Festival!



Esta não é uma acção contra o Queer Lisboa, contra a mostra de filmes israelitas ou a vinda de realizadores de Israel, e muito menos 'anti-Israel', mas sim pela paz para todos os povos do Médio Oriente, pelos direitos do povo palestiniano e contra as violações sistemáticas dos Direitos Humanos por Israel. É precisamente por prezarmos o Queer Lisboa e o seu significado que não queremos vê-lo associado a este apoio. Por isso mesmo, esta semana, também o cineasta canadiano John Greyson, premiado na última edição do Queer Lisboa, uniu a sua voz à nossa reivindicação, solicitando a dissociação do Festival relativamente ao apoio desta embaixada, sob pena de não permitir a exibição do seu filme, prevista para dia 21 na presente edição do Festival.
Sem pretendermos negar os avanços duramente conquistados pela comunidade LGBT em Israel (não extensivos aos habitantes dos territórios ocupados por Israel) nos últimos anos, ou as atitudes repressivas da homossexualidade em alguns outros países do Médio Oriente, esta utilização abusiva da temática LGBT faz tábua rasa dos avanços igualmente conseguidos em países árabes da região, bem como da intervenção dos movimentos LGBT nesses países, negando que também em Israel a homofobia continua a ser estrutural em grande parte da sociedade, enquanto contribui para recusar os direitos humanos mais básicos à população palestiniana dos territórios ocupados, qualquer que seja a sua orientação sexual ou identidade de género.

Não podemos esquecer que não existe liberdade de género ou de sexualidade quando se é discriminado com base na etnia e se vive sob ocupação militar, confinado a bantustões de terra, cercado por muros da vergonha, privado de bens essenciais, sujeito a checkpoints, demolições de casas e a bombardeamentos.

Falamos de um apartheid israelita, porque Israel é um país fundado na ideia de diferentes direitos para povos diferentes, negando aos palestinianos o direito de regresso às suas terras, ocupando a Faixa de Gaza e a Cisjordânia e tratando de forma diferente os palestinianos residentes em Israel. Sem surpresa, Israel foi o último e melhor “amigo” do apartheid sul-africano mesmo até ao momento da sua abolição.

É por esta política de violação sistemática dos Direitos Humanos que Israel é actualmente alvo de uma campanha mundial de Boicote, Sanções e Desinvestimento que se tem traduzido em diferentes áreas, à semelhança do boicote a que foi sujeita a África do Sul durante os anos da segregação racial naquele país. Em Junho passado, a indignação internacional pelo ataque do exército israelita a um navio turco que transportava ajuda humanitária destinada à Faixa de Gaza, durante o qual foram assassinados nove activistas desarmados, veio reforçar a mobilização para este boicote, bem como o seu sucesso crescente.

Respondendo ao apelo de 170 organizações da sociedade civil palestiniana, incluindo múltiplos intelectuais e artistas palestinianos, israelitas e de todo o mundo pela implementação de um boicote cultural internacional ao estado de Israel e às suas políticas criminosas, o movimento LGBT tem agido em vários países. Na Marcha do Orgulho de Madrid deste ano, a organização decidiu vedar a participação a grupos sionistas, enquanto a última edição do Festival de Cinema LGBT de Toronto, Canadá, recusou pela primeira vez o apoio da Embaixada de Israel.

Outro exemplo nesta área foi o Festival de Cinema de Edimburgo, que recusou o apoio da embaixada local e procedeu à devolução do dinheiro.
Compete ao Queer Lisboa a dissociação imediata do apoio desta embaixada e a recusa do dinheiro do apartheid israelita.



Contamos com a vossa presença!

PANTERAS ROSA

13 setembro 2010

A nova Praça do Comércio - Terreiro do Paço


A Frente Tejo não terminou as obras na Ribeira das Naus e no Terreiro junto ao Cais das Colunas. Ainda não se consegue perceber, por isso, o impacto ou a melhoria desta intervenção em toda a área mas consegue-se, desde há um par de meses, perceber o novo desenho dado ao pavimento do Terreiro do Paço. Gosto da solução encontrada: o desenho sóbrio e geométrico a jogar de forma discreta com as linhas de força sugeridas pelo arcaria dos pórticos, criando uma relação mais próxima entre o espaço vazio e o espaço contruído; gosto da cor encontrada, ténue também o suficiente para não se dar por ela e eficaz a absorver a luminosidade que, neste sítio e frente ao poderoso espelho do rio, se torna insuportável para a retina mais generosa.