30 novembro 2005

De que é que têm medo, afinal?

Acho que já disse algo relacionado com isto há pouco tempo, num post sobre o Luís Sepúlveda.

Dou o exemplo do Che, porque o mataram por medo. Ou melhor, pavor. E ainda hoje, os sucessivos governos da economia e da guerra matam gente boa por todo o mundo. Mas de que têm tanto medo, afinal?

Será do Amor, da ternura?

Ou do sorriso aberto e com franqueza, de um homem lutador, determinado, certo da sua razão, e (talvez por isso mesmo) de olhar feliz?

E se de repente me aparecer um polícia à frente?

Desde que ouvi as notícias desta manhã que ando cá com uma dúvida. A polícia tem agora autorização para andar nos transportes a identificar cada um (além dos brutamontes que nos controlam os bilhetes). Ora eu tenho o direito de não andar a ser vigiada e de não ter que dar satisfações à polícia sobre a que horas estou em que linha de Metro, e mais as perguntas que se acrescentam nestas coisas: que está cá a fazer, como se sustenta, que faz na vida. É que não me apetece andar a mostrar o meu BI e a contar a minha vidinha a cada palerma fardado que me aparece pela frente! Que raio pode uma pessoa dizer numa situação dessas?

Mãe, pai... não tarda muito vou eu também

O Sarko andou aí uns dias distraído. Deve ter ido visitar a família à Hungria (que é no estrangeiro, por acaso). Já de volta saiu-se hoje com mais umas quantas medidas das do costume, e como tirou férias, hoje foi em catadupa! Nem vou falar de todas em separado, não vale a pena repetir disparates. Quem quiser saber mais, aqui está o link (um dos possíveis).

Com tanta medida para expulsar os estrangeiros, ou até impedindo-os de vir quando ainda estão no país de origem (o que quer dizer que vai actuar como autoridade em país estrangeiro - mais um "copy-paste" do Patriot Act dos EUA), tenho cá a impressão que se ele continua a produzir leis destas a esta velocidade, não tardará muito a expulsar-me a mim também.
Será que é seguro ir passar o Natal a casa?

Aumenta o racismo dos franceses, mas ainda por cima, aumenta também a concorrência (que neste caso se traduz em racismo) entre os próprios imigrantes, na discussão de quem tem "a migalha maior", quem tem a menos má das oportunidades para cá ficar.

Não podemos esquecer a memória/ história deste tipo: os pais, judeus húngaros, têm uma história de esconderijos durante o III Reich, fuga à invasão de Estaline. Deixaram um castelo na Hungria e chegaram a França como refugiados. Foram aceites, acolhidos, integrados. Tiveram trabalho, formação, "direito de solo" para os filhos. Conseguiram restabelecer a posição social que tinham tido na Hungria. Instalaram-se em Neuilly, nos arredores de Paris, um dos bairros mais ricos e chiques da Europa, porque foram aceites, porque foram integrados, porque foram respeitados os direitos ao trabalho, à nacionalidade, os direitos de refugiados.


Sarkozy t'as oublié, tes parents sont étrangers!

26 novembro 2005

Quem se lembra das fantásticas montras de Natal?

Nos armazéns do Chiado e do Grandela, lembram-se dos bonecos, dos cenários em que tudo mexia?
Em Lisboa nunca mais voltou a haver nada de semelhante depois de 1988. Em Paris, há as montras do Printemps e do Lafayette. Têm mais tecnologia, mas não são necessariamente mais bonitas. Este ano são assim:


Every cloud has a silver lining

Que é como quem diz, até este frio gélido tem um lado bom: a neve e os jardins branquinhos.


Reconheço que as crianças é que não devem estar nada contentes. Como a camada de neve é muito fina, torna-se gelo rapidamente, o que torna o piso muitíssimo escorregadio e perigoso. Portanto, este parque infantil na fotografia (e imagino que os outros) está muito bonito, mas fechado.

Eu é que ainda fico embasbacada cada vez que neva. Até ao ano passado, tinha visto neves glaciares nalgumas serras (ou sasonais no caso da Estrela), mas nunca tinha visto neve na cidade, e nunca tinha visto nevar.

25 novembro 2005

"Mariazinha fui em Marta me tornei"


"Vou daquilo que fui
pràquilo que serei"
......

"Meus olhos cansados
abrem-se espantados
prà vida de que me falavas
pra combater contra os donos de escravas
meus olhos verdes que te vão falar
e que tu vais ouvir

Mariazinha fui
em Marta me tornei
Vou daquilo que fui
pràquilo que serei"

25 de Novembro

Hoje, logo hoje, encontrei pela primeira vez desde que estou em Paris cravos vermelhos à venda. Encolhidos. Do frio e da neve, pensei eu. Mas depois lembrei-me... não, não é só da neve.

Há trinta anos "murcharam a nossa festa", o "mês de Novembro vingou-se". Não suportou a "esperança à solta", os "hinos feitos de alegria e de paixão", e nesse dia "foi um sonho lindo que acabou". Passou a haver "mentira e raiva a andar à solta".

Espero que o José Mário Branco tenha mais uma vez razão, que este sonho seja ainda para viver "quando toda a gente assim quiser", e que, como diz o Chico Buarque, tenham mesmo esquecido "uma semente nalgum canto de jardim". E enquanto esse dia não chega, "guardo renitente" cravos para mim, mas estão frescos, viçosos e muito vermelhos!


21 novembro 2005

Pivot

Sou só eu que acho obsceno que José Rodrigues dos Santos nos pisque o olho no fim do Telejornal?

17 novembro 2005

Tragicomédia à la française (de segunda geração)

Se a censura não fosse um caso sério, esta era de rir "a bandeiras despregadas".

A sra. Cecília Sarkozy, ex-mulher do ministro Sarko em processo de divórcio, ía ver publicado um livro sobre ela e a relação com o ex-marido.
O ex-marido não gostou desta coisa da liberdade de expressão e proibiu a edição. Mas como legalmente não o pode fazer, usou a ameaça chantagista com o editor do livro.

Pode até parecer um caso de família. Mas não é, por diversas razões. A censura de um livro é um assunto público, seja lá que livro fôr. O dito cujo é ministro, e foi esta sua posição que permitiu a censura. E o que um ministro faz enquanto ministro, é assunto público. E porque a violência familiar, física ou psicológica, é crime público.


E para rematar, a partir de hoje os meus posts sobre este assunto têm uma frase final, que é uma das que mais se ouviu no Bd. St. Michel ontem ao fim da tarde (versão soft, a outra seria descer ao nível dele):

Sarkozy t'as oublié, tes parents sont étrangers!

16 novembro 2005

A gente a pensar que eles estavam a mentir...

...e afinal sempre havia armas de destruição maciça no Iraque.

Conseguiram ser piores do que o pior que pudesse imaginar. Sempre quis crer que eles iam levar armas para as "plantar" e "descobrir" como grandes troféus da sua "verdade suprema". Nunca pensei que as usassem mesmo, nas barbas do Mundo inteiro.

15 novembro 2005

Pérolas

De um tipo que não se pode "dar ao luxo" de perder as Presidenciais de 2007, porque nesse caso, com as eleições vai também a imunidade. Sem imunidade, lá tem a tal da "République" e as tais "règles" à perna.

Do discurso de hoje:

"La justice est saisie : elle fera toute la lumière, elle sera sans faiblesse."
Isto é, para quem não tem imunidade...

"Ceux qui s'attaquent aux biens et aux personnes doivent savoir qu'en République on ne viole pas la loi sans être appréhendé, poursuivi et sanctionné."
Lá está a tal da "République"...

"Quand on appartient à notre communauté nationale, on en respecte les règles."
E quando somos presidentes dessa comunidade, como é?


"L'autorité parentale est capitale. Les familles doivent prendre toute leur responsabilité. Celles qui s'y refusent doivent être sanctionnées, comme la loi le prévoit."

Sempre gostava de saber, entre 12 ou 13h de trabalho por dia, mais 2 ou 3 h de transportes para poder comer... de quem é que é a negligência?!

"Il faut renforcer la lutte contre l'immigration irrégulière et les trafics qu'elle génère."
Irra, que é burro: SÃO FRANCESES QUE VIVEM EM FRANÇA!!!!! Ou vai mandá-los todos para morrer no deserto marroquino como manda os seus soldados fazer em Melilla?

"Il faut intensifier l'action contre les filières de travail clandestin, cette forme moderne de l'esclavage."
Até que enfim alguma coisa inteligente! Só que isto já a gente ouve há décadas e ainda nada...


"Mais l'adhésion à la loi et aux valeurs de la République passe nécessairement par la justice, la fraternité, la générosité. C'est ce qui fait que l'on appartient à une communauté nationale."
Portanto ele não sendo generoso nem fraternal, e ainda menos justo, exclui-se da comunidade. É isso?

"Et je veux dire aux enfants des quartiers difficiles, quelles que soient leurs origines, qu'ils sont tous les filles et les fils de la République."
Pois, dizer é muito bom. Aliás, eles estão fartos de ouvir. E ouvir, ouvir ainda mais. Agora querem ver.

" Nous ne construirons rien de durable sans le respect. Nous ne construirons rien de durable si nous laissons monter, d'où qu'ils viennent, le racisme, l'intolérance, l'injure, l'outrage."
Que lindo... quem não souber o que se passa no terreno, até pode achar que é um bom discurso.
E já que sabe isto, e é em última análise o adulto mais responsavél da nação, que tal dar o exemplo e começar ele por ter respeito em vez de racismo?


Quanto às medidas prometidas, a ver vamos. Estas promessas, e até outras bem mais corajosas já foram feitas dezenas de vezes. Nenhuma foi cumprida até agora. E não adianta fazer promessas com uma mão e ameaças com a outra. É jogo sujo, não vale.


" Et j'invite les chefs des partis politiques à prendre leur part de responsabilité : les élus, la représentation nationale doivent eux aussi refléter la diversité de la France. C'est une exigence pour faire vivre notre démocratie."
Com que então a repressão é implacável, mas para os partidos políticos, os meios de comunicação e o MEDEF é só doçuras. É, quem se lixa é sempre o mexilhão. Reparem: "Convido"... que lindo, que romântico!

Que besta!

14 novembro 2005

Sarkolazarysme 2

Novo dia útil, novas notícias do governo francês, secundado pela maioria dos media e dos súbditos. Como já aqui disse, o criminoso não descansa nem um dia.

1- as medidas securitárias de quase estado de sítio vão continuar por mais três meses. Na rádio, apenas o presidente de Câmara de Lyon (PS) contesta. Resta lembrar que os últimos grandes distúrbios foram exactamente na place Bellecour em pleno centro de Lyon. Esta lei tem que passar pela Assembleia nacional e pelo Senado, mas dadas as maiorias de direita, isto não é mais do que um pro-forma.

2- é grande a preocupação sobre a imagem negativa que os media estrangeiros estão a passar por todo o Mundo. Foram dadas ordens aos embaixadores franceses para desfazer esse "equívoco", fazendo passar uma imagem de perfeita ordem. Cheira a censura. Tresanda.
Ontem na rádio uma reportagem falava com um francês radicado nos arredores do Porto, que tenta em vão restabelecer a "verdade" sobre os acontecimentos de Paris junto dos seus amigos portugueses. Coitado, não sabe que os seus amigos portugueses, em especial naquela zona do país, sabem na pele como é ser imigrante em França.

3- vão cortar as "aides sociales" às famílias dos implicados nos distúrbios. Ou seja, Rendimento Mínimo Garantido, subsídios de desemprego, etc. Vamos portanto ter fome em plena Île-de-France. Os jornalistas devem ter tido tanta vergonha, que deram a notícia uma vez e nunca mais a repetiram. Na minha volta pelos principais jornais franceses, nem uma palavra. Mas eu ouvi, garanto que ouvi! O argumento do criminoso mor do país, estes pais são co-responsáveis pelos actos dos filhos, por não terem tomado conta deles.

Importa salientar que nas famílias com mais sorte, os pais têm dois empregos (num total de 12 ou 13 horas) cada um para poderem ter comida 30 dias por mês. Outros não têm mais do que o desemprego. Os passes de transporte para as zonas de residência destes bairros custam 68,1€ ou 84,4€ (consoante se respeitam às coroas 3 ou 4). Os tempos de transporte por dia ronda as duas ou três horas.

Só mesmo um grande criminoso retira a última côdea de uma família sem nada.


O apoio ao criminoso cresce de dia para dia. As sondagens dão-lhe cada vez mais carta branca para agir como lhe aprouver. A Assembleia Nacional e o Senado não são mais do que fantoches. A população apoia o crime e torna-se cúmplice. Instalou-se definitivamente no vocabulário dos franceses a diferença entre "français de souche" e "français d'origine maghrébine". Eles dizem que têm um modelo muito diferente do estado-unidense (e não americano; não consta que seja assim no resto da América). Mas alguém me explica a diferença entre isto e as designações "african-american", "native-american", "asian-american", "latin-american", etc?

É irónico, muito irónico, que na França das comemorações dos 60 anos da libertação e do fim do nazismo, a mesmíssima população apoie este apartheid e participe dele activamente nas "pequenas" discriminações monstruosas do dia-a-dia.



Mais uma questão: ONDE ANDA A ATTAC FRANCE nesta querela? Além de um comunicado de meia-dúzia de linhas no site, nada! Nem sequer se juntaram ao apelo da LDH (Liga dos Direitos Humanos), do MRAP e da LCR para uma manifestação no sábado passado!

12 novembro 2005

Fátima

Não é exactamente sobre a procissão de hoje em Lisboa que quero falar. Sinceramente, é-me indiferente.

O que me incomoda é que se juntem milhares e milhares para procissões, para peregrinações tão sofridas, para jogos de futebol, e até para gastar rios de dinheiro a acompanhar equipas de futebol ao estrangeiro, mas não sejam capazas de se juntar para resolver os problemas da vida que têm. Porque é que tanta gente age como se as duas coisas fossem incompatíveis? Como se o Deus em que acreditam quisesse que continuem cada vez mais miseráveis, ou então pedem-lhe que resolva os problemas que têm que ser as pessoas a resolver.

Se o mesmo número de pessoas que hoje encheram as ruas de Lisboa e os estádios do país se juntassem de hoje a uma semana para exigir os salários dignos, o governo tinha mesmo que se mexer.

11 novembro 2005

SARKOLAZARYSMO

"Governo francês proíbe concentrações em Paris no fim-de-semana
11.11.2005 - 16h43 AFP

Entre as 10h00 de sábado e as 08h00 de domingo estão proibidas todas as concentrações de pessoas em Paris, anunciaram hoje as autoridades francesas."

TODAS as concentrações? De mais de quantos? E vão prender os parisienses e turistas que passeiem em grupo, onde?

Além de demagógica porque obviamente impraticável na cidade mais turística do mundo, esta medida é perigosa. E com novas decisões securitárias TODOS OS DIAS, onde vamos parar?


Mais uma medida, mais um dia: a vontade de resolver verdadeiramente os problemas (e a subsequente violência) está cada vez mais longe. Com este governo e este rumo, receio bem que a guerra aberta e generalizada não estará longe. Ainda bem que os franco-franceses os apoiam. Não poderão ser acusados de ter agido contra a vontade do povo.

Nota: se eu desaparecer por muito tempo, não estranhem. Os bloggers franceses já começaram a ser presos e julgados. Isto da liberdade de expressão era bom demais para ser verdade!

09 novembro 2005

Notícias do dia

1. A proposta do BE, apoiada pelo PCP, para dar início ao processo de mudança da lei do aborto na AR, foi chumbada pela direita (PS, PSD, CDS). Evolução civilizacional parada na Idade Média e sem perspectivas de retoma.

2. Outra proposta do BE, de um voto de condenação pelo abandono dos subsarianos em pleno deserto para morrer à fome e à sede, foi chumbado na AR pela direita (PS, PSD, CDS). Não percebo que raio de gente se pode opôr a um protesto face à morte de tantas pessoas. Também não percebo que ando é que o PS assume que mudou completamente de campo político e muda a sigla. É que a designação de "Socialista" num partido cada vez mais à direita incomoda mesmo.

3. Mais um sinal dos tempos em que parámos o relógio: namoros na escola, só de heterosexuais. E são exactamente agentes de educação, que deviam educar, quem dá os piores exemplos de discriminação, tacanhez e falta de civismo e de educação.

4. Em França, Sarkozy reincide. Bom, uma coisa é certa: o tipo não descansa. Todos os dias arranja um novo disparate, do mais previsível ao mais absurdo! Agora incentiva a dupla pena. Os estrangeiros condenados em tribunal pelos distúrbios dos últimos dias serão extraditados uma vez cumprida a pena. Só que dos 1800 condenados, só cerca de 120 são estrangeiros. A revolta é de franceses, não é de estrangeiros. Mas vá-se lá explicar a este tipo que uma pessoa de pele escura tem nacionalidade francesa. Ele não concebe isso!

É de salientar a súbita rapidez dos tribunais para lidar com os acusados destes distúrbios. Não se pense que em França os tribunais funcionam sempre a esta velocidade. Não, só quando lhes cheira que podem "tratar" de uns quantos "escumalhas" todos por junto. Afinal o problema do atraso dos tribunais é mais fácil de resolver do que parece: basta apelar-lhes ao sentido de racismo e patriotismo mais bacoco.

E pára aqui hoje a leitura dos jornais. Ao contrário de um palestiniano, ou de um dos mortos esta noite em Amã, um qualquer detido em Guantanamo, em Melilla ou em parte incerta, eu tenho a imensa sorte de poder decidir que não quero saber mais nada disto hoje. Em princípio, estou segura de que a manchete de amanhã não me vai entrar pela casa dentro hoje à noite em forma de bomba, chicote ou decreto ministerial.

Quiz Principezinho

Por via dos Becos&Companhia fui fazer o teste: pilot.
You are the pilot.

Saint Exupery's 'The Little Prince' Quiz.
brought to you by

08 novembro 2005

Leituras

Amin Maalouf: "As Identidades Assassinas"

Ainda só li o prefácio, mas os comentários precipitam-se...

Esta é para mim a verdadeira globalização. Em França, eu, portuguesa, encontro compreensão e companhia no texto de um libanês do Mundo.
É muito bom não estar sozinha.

Leituras

Luis Sepúlveda: "O General e o Juiz"

Acabada de fresco a leitura, uma ideia povoa-me o espírito: as pessoas que mais sofreram e mais lutaram parecem ser as que melhor vivem a vida e que mais felizes parecem ser.

06 novembro 2005

Décima noite em Paris (e já não só)

A violência nas ruas alastrou a toda a coroa à volta de Paris e a várias cidades francesas.

O governo recebeu ontem alguns jovens de origem magrebina. Mas ou não são jovens desses bairros ou são os improváveis sortudos (sim, depende mais da sorte do que do esforço pessoal) que conseguiram sair do ciclo de miséria.

De resto, não se vislumbra o passo inicial para começar a resolver o problema: demitir quem devia ter saído há muito tempo. Pelo menos desde os mortíferos incêndios em vários prédios em Paris.


No entanto, falta ainda uma nota sobre a noite de hoje e ontem. Começaram ataques a ambulâncias, algumas das quais estavam em serviço. Uma ambulância em serviço está a salvar vidas, pode ser mesmo a diferença entre a vida e a morte do doente. É intolerável matar gente, e sobretudo inocente, em qualquer luta. Não aconteceu, felizmente, mas o ataque a uma ambulância significa essa possibilidade. E isso não é revolução, é descer ao nível Sarkozy, um dos mais baixos que se conhecem.

Entrevista - 2º Round

No ring de boxe de Margarida Marante esteve esta semana Jerónimo de Sousa. O tom da entrevistadora foi praticamente o mesmo: interromper a meio, dar opiniões como verdades adquiridas, sobrepôr-se ao convidado.

Esperemos pelos próximos episódios: será que Margarida vai ser tão desagradável assim com Cavaco, ou vai tirar um curso expresso com Paula Bobone?

05 novembro 2005

Lutas globais

Em Paris, em Mar del Plata ou em Ceuta: os slogans são diferentes, mas a luta é uma só. Pela Humanidade, a Liberdade, a Igualdade, a Justiça, o Desenvolvimento (esse sim) global e igualitário.




A luta é a mesma. A repressão também.



04 novembro 2005

Crónica de duas mortes há muito anunciadas

Primeiro, em vez de se preocuparem tanto com o véu, era isto que deviam ter resolvido. Quando há um problema resolvem-se as causas, não os sintomas.

Algumas destas são as mesmas cités onde agora se passam os confrontos. Pobreza, violência em casa, nas igrejas e mesquitas, na escola, na rua, desemprego. Não há praticamente integração em França. As cités são guetos onde se enfiam os imigrantes de países pobres - África sub-sahariana, Magreb, Médio Oriente, ex-colónias francesas, ou mesmo dos DOM-TOM (Ultramar - sim, a França tem Ultramar!)... São pessoas que muitas vezes não falam francês ou são analfabetas. Vivem em comunidades fechadas. Sem integração possível, fecham-se no que conhecem: a cultura dos países de origem, mas com exageros de imigrante. Vivem do RMI (rendimento mínimo de inserção) enquanto ele dura ou do subsídio de desemprego.

Do Estado, só cortes financeiros e repressão. Da polícia, que se quereria protectora, só há medo, terror e muita repressão. A repressão suficiente para três miúdos inocentes fugirem a esconder-se dentro de um transformador eléctrico.

Não digo mais. Não há palavras para tanta indignação. Deixo-vos ler os artigos que ilustram bem o que se passa nas cités. Não hoje, mas desde há muito tempo.


Pensando melhor, digo: Sarkozy devia ser sumariamente demitido. Sem mais delongas. A justificação foi o funeral dos dois jovens. E depois, obviamente, o único destino que se reserva a tal gente: o tribunal.

01 novembro 2005

Pequenas maravilhas do mundo

Edição especial dia de Todos os Santos:


As brendeiras das minhas tias-avós.