23 agosto 2005

19 agosto 2005

Pequenas maravilhas do mundo

- Prima, olha o barco! Vamos ao barco!
- B., não podemos, aquele barco é das pessoas que lá estão.
- Mas eu quero! (pausa) Coitadinho... O barco está sozinho! Vamos ao barco!

E se um "bobby" lhe aparecer à frente?

Bom, o mais seguro é fugir!

É um costume da polícia e do exército. Infelizmente, já nos habituámos a imagens de marines a atirar "às cegas". Nas cidades mais violentas é um hábito diário da polícia: "Primeiro dispara e pergunta depois".

Choca-me que estes acontecimentos sejam para nós tão corriqueiros que achamos natural não haver consequências. Espero estar errada, espero que elas, as consequências, apareçam. Mas até agora o chefe da polícia não se demitiu, o ministro também não, ninguém parece ter que enfrentar um tribunal por assassinato.

E o terror que terão sentido os vizinhos de banco de Jean Charles? Sim, imaginem que estão sentadinhos descansadinhos num banco do Metro. Se forem como eu, vão a ler um jornal ou um livro e nem sequer olharam ainda à volta. De repente aparecem uma série de polícias que agarram no rapaz ao vosso lado e o prendem. Quando ele já está seguro e preso e vocês pensam que acabou tudo e que lá vai mais um carteirista, saem uma série de balas a toda a velocidade, que passam a 15 ou 20 cm da vossa cabeça (e nem sequer têm tempo de pensar se o polícia tem boa pontaria ou não...), o sangue jorra por todo o lado. É ou não é suficiente para provocar um ataque de coração aos mais fortes e para deixar, no mínimo, um trauma para o resto da vida?

Não foi o primeiro morto por engano. Não será o último. Eu bem sei que errar é humano, mas precisamente por isso, e porque a polícia também sabe disso, não se dispara sem haver uma situação inequívoca de legítima defesa, e nunca a matar! E sobretudo, não é possível disparar sobre uma pessoa que está presa, não ofereceu resistência e está perfeitamente dominada!

Enquanto a nossa polícia e o nosso exército agirem como terroristas, não sei como podemos viver descansados.

18 agosto 2005

Eu acho que serias uma corda

para enrolar firmemente ao pescoço de alguém. É actual e tem um nome fácil.
Muito bem vinda Helena Romão, o blogue assediou-te numa altura de férias, desvarios, saldos fora de época, comissões para a seca 2005. Este barquinho a vogar nas marés bem precisa de umas velas levantadas (que o petróleo está pela hora da morte). Deixo aqui uns frutos ainda verdes e vou ali dar uns mergulhos.

15 agosto 2005

e se fosses uma arma que arma serias? (2)

Não era. Detesto armas.
Não trazem nada de bom.

E como um desastre nunca vem só, uma arma também não... Além disso, têm o dom de dar a quem as tem, a sensação de ser poderoso e imbatível, o que habitualmente dá desastre. Até as forças de segurança, tenho sempre a impressão de que atiram antes de perguntar, e quase nunca em último recurso.

Por isso não faço este teste. Não me serviria de grande coisa, já que nem sequer sei os nomes das armas para poder no fim perceber o resultado. Mas quando encontrar um teste que possa apresentar-me, ponho-o aqui.

09 agosto 2005

e se fosses uma arma que arma serias?

Katana
Your personality is best represented by the traditional Japanese Katana. You are brave beyond words and rarely (if ever) act for your own personal gain. Your honor is very important to you, and you strive to better yourself and help others. You try not to let emotions get in the way of making a sound decision, and are usually quite successful.

What sort of Weapon best Represents your Personality? (anime pics!)
brought to you by Quizilla

Eu preferia era ser uma fisga

Danielle Miterrand escreveu


Texto de Danielle Miterrand, esposa do ex-presidente François Miterrand,ao povo francês, após ter recebido críticas impiedosas por ter permitido a presença da amante do marido e de sua filha Mazarine, na cerimônia fúnebre.


"Antes de mais nada devo deixar claro que não é um pedido de desculpas. Muito menos um enunciado de justificativas vãs, comum aos covardes ou àqueles que vivem preocupados em excesso com a opinião dos outros.

Aos 71 anos, vivendo a hora do balanço de uma existência que é um sulco bem traçado e profundo, já não mais preciso, e nem devo, correr atrás de possíveis enganos. Vivo o momento em que as sombras já esclarecem e que as ausências são lindas expressões de perenidade e criação. Sombras e ausências podem ser tudo, ao passo que luzes e presenças confundem os mais precipitados, os mais jovens.

Vivi com François 51 anos e estive com ele em muito desse tempo e me coloquei sempre. Há mulheres que não se colocam, embora estejam; que não se situam embora componham o cenário da situação presumível. Uma vida de altos e baixos.

Na época da Resistência nunca sabíamos onde iríamos passar a noite se na cama, na prisão, nos bosques ou estendidos por toda a eternidade. Quando se vive assim em comum, cria-se uma solda e a consciência de que é preciso viver depressa. Concentrar talvez seja a palavra. Por isso tentei entendê-lo, relacionar-me com sua complexidade, com as variações de sua pessoa e não de seu carácter...quem entende ou, pelo menos luta para compreender as variações do outro, o ama realmente. E nunca poderá dizer que foi enganada ou que jamais enganou. Não nos enganamos, nos confundimos quando nos perdemos da identidade vital do parceiro, familiar ou irmão. Ou jamais os conhecemos, o eu também, não é um engano. Quem não conhece, não tem enganos. Nas variações do outro, não cabe o apaziguador que destrói tudo antes do tempo em forma de tranquilidade. Uma relação a dois não deve ser apaziguada, mas vibrante, apaixonada, e não, enfastiada. Nessa complexidade vi que meu marido era tão meu amante quanto da política. Vi, também, que como um homem sensível poderia se enamorar, se encantar com outras pessoas, sem deixar de me amar.Achar que somos feitos para um único e fiel amor é hipocrisia, conformismo.
É preciso admitir docemente que um ser humano é capaz de amar apaixonadamente alguém e depois, com o passar dos anos, amar de forma diferente. Não somos o centro amorável do mundo do outro. É preciso aceitar, também, outros amores que passam a fazer parte desse amor como mais uma gota d'água que se incorpora ao nosso lago.

Simone de Beauvoir dizia bem que temos amores necessários e amores contingentes ao longo da vida. Aceitei a filha de meu marido e hoje recebo mensagens do mundo inteiro de filhos angustiados que me dizem"Obrigado por ter aberto um caminho. Meu pai vai morrer, mas eu não poderia ir ao enterro porque a mulher dele não aceitava".

É preciso viver sem mesquinhez, sem um sentido pequeno, lamacento, comum aos moralistas, aos caluniadores e aos paranóicos azedos que teimam em sujar tudo. Espero que as pessoas sejam generosas e amplas para compreender e amar seus parceiros em suas dúvidas, fragilidades, divisões e pequenas paixões. Isso é amar por inteiro e ter confiança em si mesmo".